Líder mundial, avicultura do Brasil vê caso “pontual” e espera retomar logo as exportações

A cadeia produtiva de carne de frango vê como "pontual" o caso de gripe aviária detectado no Rio Grande do Sul e acredita em um rápido restabelecimento das exportações para países que suspenderam a compra do produto brasileiro. O foco do vírus influeza aviávia no Sul foi o primeiro já registrado no país em uma granja comercial.
A confirmação da doença em uma granja comercial levou parceiros comerciais como China e União Europeia (UE) a suspender temporariamente a compra de carne de frango e derivados do Brasil, segundo o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro.
Maior exportador do mundo, o Brasil era até então o único grande produtor livre de ocorrência da doença em granjas comerciais, o que lhe conferia vantagem sobre os concorrentes.
As consequências do caso de influenza aviária sobre a produção nacional vão depender da rapidez com que o país consiga conter o vírus. O sistema predominante é de integração agroindustrial, no qual grandes frigoríficos fornecem animais, ração e medicamentos, ao passo que os produtores – em sua maioria, donos de pequenas ou médias propriedades – criam as aves dentro de padrões. Estima-se que o setor empregue 4 milhões de pessoas, direta e indiretamente.
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que está concentrando as declarações sobre o caso em nome do setor avícola, afirma que neste momento não é possível dimensionar os impactos comerciais que a confirmação da doença pode gerar ao país. Mas diz confiar na expertise do Brasil na condução de tratativas para derrubar os embargos, como já ocorreu em situações semelhantes anteriormente.
Em 18 de julho do ano passado, as exportações brasileiras de carnes de aves foram suspensas temporariamente para 44 países por iniciativa do próprio governo federal, após a identificação do vírus da doença de Newcastle em um aviário de Anta Gorda (RS).
Dependendo do parceiro comercial, a suspensão incluía a produção de todo o país, apenas do Rio Grande do Sul ou de um raio de 50 km do caso identificado.
Uma semana depois o foco foi considerado eliminado, e os bloqueios começaram a ser derrubados. A China, um dos últimos países a voltar a importar a carne de frango na ocasião, retomou as compras 26 dias após a suspensão.
Brasil é líder mundial na exportação de carne de frangoO Brasil é o maior exportador de carne de frango do mundo, à frente dos Estados Unidos e de toda a União Europeia. De acordo com o departamento de agricultura americano (USDA, na sigla em inglês), 5,3 milhões de toneladas do produto brasileiro foram enviados ao exterior no ano passado, um crescimento de 3% em relação a 2023.
A China é o principal destino externo da carne de frango do Brasil. Em 2024, o país asiático importou 562,2 mil toneladas da proteína brasileira, o equivalente a 10,9% de todas as exportações nacionais, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
Outros importantes mercados da carne de frango nacional incluem Emirados Árabes Unidos, que importou 455,1 mil toneladas no ano passado; Japão (445,2 mil toneladas); Arábia Saudita (370,8 mil toneladas); África do Sul (325,4 mil toneladas) e Filipinas (234,9 mil toneladas). A UE comprou 231,9 mil toneladas do produto brasileiro em 2024.
O Rio Grande do Sul, onde foi detectado o vírus H5N1 em uma granja comercial, foi responsável pela exportação de 619,8 mil toneladas de carne de frango em 2024, o equivalente a 13,4% de todas as vendas externas brasileiras do produto, ficando atrás apenas de Paraná (41,1%) e de Santa Catarina (22,6%).
Área em raio de 10 km de granja onde foco foi detectado está isoladaO primeiro caso brasileiro de detecção do vírus da influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP) em um matrizeiro de aves comerciais foi confirmado nesta quinta-feira (15) pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
O diagnóstico foi feito pelo Laboratório Federal de Diagnóstico Agropecuário, em Campinas (SP), após a coleta de amostras de um estabelecimento avícola de reprodução em Montenegro (RS).
A suspeita de síndrome respiratória e nervosa de aves, um dos sintomas da IAAP, havia sido notificada na segunda-feira (12) ao Departamento de Vigilância e Defesa Sanitária Animal (DDA) da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) do Rio Grande do Sul.
O governo gaúcho informou que, com a confirmação do foco, o Serviço Veterinário Oficial (SVO-RS) isolou a área em Montenegro e eliminou as aves restantes, para que seja iniciado o protocolo de saneamento da granja, como prevê o Plano Nacional de Contingência de Influenza Aviária.
O protocolo sanitário brasileiro determina que seja isolada uma área em um raio de 10 quilômetros a partir do local onde foi detectada a infecção por um período de 60 dias. O governo federal decretou estado de emergência zoossanitária em todo o país pelo mesmo prazo.
Entidades do setor afirmam que caso de gripe aviária é “pontual”A ABPA e a Associação Gaúcha de Avicultura (ASGAV) divulgaram uma nota oficial conjunta, na qual classificam o caso como “pontual”. As entidades setoriais afirmam que apoiam o Mapa e a Seapi no processo de identificação, comunicação e contenção do quadro.
“Todas as medidas necessárias para o contingenciamento da situação foram rapidamente adotadas, e a situação está sob controle e monitoramento dos órgãos governamentais”, diz trecho do comunicado.
“Ao mesmo tempo, as entidades confiam na rapidez das tratativas que serão adotadas pelo Ministério e pela Secretaria em todos os níveis, de tal forma que qualquer efeito decorrente da situação seja solucionado no menor prazo possível”, afirmam as associações.
A ABPA pretendia utilizar o status sanitário brasileiro, livre de influenza aviária na produção comercial, como um dos diferenciais do produto nacional na Shanghai New International Expo Center (Sial), uma das maiores feiras de alimentos e bebidas do mundo, que ocorre em Xangai, na China, na semana que vem.
Em fevereiro, o presidente da entidade, Ricardo Santin, afirmou que as projeções para exportação de carne de frango brasileira em 2025 provavelmente seriam revisadas para cima, diante dos inúmeros surtos de influenza aviária em países concorrentes e também em nações importadoras.
Os Estados Unidos já haviam notificado 1,7 mil surtos de H5N1 até o fim de abril, incluindo 13 casos em aves selvagens, 618 em aves de curral ou domésticas, 53 em mamíferos silvestres e 1.021 em mamíferos selvagens, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas).
Em nota, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) disse ter “plena confiança” no ministro Carlos Fávaro para o gerenciamento do problema. A FPA também pediu que os produtores rurais continuem adotando medidas de isolamento dos animais para eliminar o foco da doença.
O Sindicato dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (Anffa Sindical), por outro lado, divulgou nota em que afirma que um déficit de servidores da categoria “compromete a capacidade de resposta do Brasil frente ao risco de disseminação da doença”.
Segundo a entidade, que defende a convocação imediata de aprovados em concurso público para cadastro reserva, o número de profissionais na ativa está “muito abaixo do necessário para dar conta da crescente demanda, especialmente em um cenário de exportações em alta e intensificação do fluxo agropecuário”.
Gripe aviária não é transmitida pelo consumo de carne ou ovosA doença não é transmitida pelo consumo da carne ou ovos de aves infectadas, ressaltam as entidades do setor e os órgãos governamentais.
“O Mapa alerta que a doença não é transmitida pelo consumo de carne de aves nem de ovos. A população brasileira e mundial pode se manter tranquila em relação à segurança dos produtos inspecionados, não havendo qualquer restrição ao seu consumo”, diz nota do Mapa.
“O risco de infecções em humanos pelo vírus da gripe aviária é baixo e, em sua maioria, ocorre entre tratadores ou profissionais com contato intenso com aves infectadas (vivas ou mortas).”
Em todo o mundo, em mais de duas décadas, de 2003 até 22 de abril de 2025, a Organização Mundial da Saúde (OMS) registrou 973 casos humanos de influenza aviária, com 470 óbitos em todo o mundo, resultando em uma taxa de letalidade de 48%.
Brasil tem 166 casos confirmados em aves silvestres ou de subsistênciaDe acordo com dados do Mapa, de 2022 até agora já foram realizadas 3.934 investigações de suspeita de síndrome respiratória e nervosa de aves em todo o país.
Dessas investigações, 1.076 casos foram considerados prováveis e levaram a coleta de amostras para diagnóstico laboratorial. Até a quinta-feira, dos 166 focos confirmados da doença, 163 haviam sido identificados em aves silvestres e três em aves de subsistência.
Um dos casos de suspeita confirmado em uma ave comercial resultou no diagnóstico da doença de Newcastle, em 17 de julho do ano passado. Em outubro, 90 dias depois de exterminado o foco, a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) reconheceu o fim do surto no Brasil.
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